A banda "Devotos" foi formada em 1988 pelo por Cannibal (baixo e voz), o Neilton (guitarra) e o Celo Brown (batereia) sob o nome "Devotos do Ódio" que foi tirado do título de um livro de José Louzeiro (1987) (Teles 2000:244). Louzeiro é o novelista, jornalista e roteirista cujo livro "Infância dos Mortos" sobre a vida de uma criança que morava na rua, foi levada ao cinema em 1981 no filme aclamado pela crítica "Pixote" de Hector Babenco.
O grupo teve e ainda tem sua base no bairro de baixa renda que também tem abundantes problemas sociais e onde muitas pessoas trabalham para melhorar suas condições que se encontra nos morros de Recife, chamado Alto José do Pinho. No ano 2000 o grupo mudou seu nome para "Devotos".
Quando a MTV começou a emitir no Recife, o sinal podia ser recebido claramente no Alto José de Pinho, os futuros membros dos Devotos já escutavam punk rock e bandas como The Smiths e The Cure junto com o punk rock de São Paulo. Conheciam os gêneros tradicionais que bandas como Chico Science e Nação Zumbi logo incorporariam aos seus sons, mas estavam interessados em tocar um estilo hardcore,rock.(Teles 2000:248).
Os membros de Devotos abraçaram a ética do "faça você mesmo" do punk rock. O guitarrista Neilton explicou-me em 2001 como fabricou ele mesmo seu primeiro amplificador e guitarra o que incluiu o braço e do corpo da guitarra, e como tocou por um longo tempo sem que ninguém percebesse que não tinha sido comprada numa loja de música.
A creatividade de Neilton estende-se à arte da capa dos CD´S da banda e ao desenho do seu web site.
A banda fabrica os cases para seus instrumentos e os gabinetes dos seus amplificadores, e compram somente o que não podem fazer eles mesmos.
Isso, de todos modos, não se faz com um sentido de carência. Pelo contrario, Neilton diz "...Eu não sinto angustia por isso. Me dá prazer e orgulho tê-lo feito e ter minha arte à vista, ver meu trabalho concretizado, a idéia realizada."
Neilton foi capaz de comprar guitarras Fender e Gibson Les Paul e amplificadores Marshall uma vez que a banda se tornou conhecida mas ele ainda sentía a necessidade de brincar com as percepções das pessoas sobre as marcas. E comprou uma guitarra eléctrica barata e removeu tudo incluindo os trastes transformando-la para o seu próprio estilo chamando-a com o nome de "Robson" e começou a usá-la nos seus shows. Logo as pessoas estavam admirando seu som e perguntando onde podiam comprar uma.
Entre os obstáculos que a banda enfrentou nos seus primeiros anos se encontravam a polícia, a repressão e a não aprovação dos moradores do seu bairro pela eleição do seu estilo musical.
O bairro Alto José do Pinho era o lar de "caboclinhos" e "grupos de maracatu" que eram importantes no carnaval. A imagem mediática das bandas de rock remetia à juventude de classe media. Quando os Devotos começaram a ter cobertura da imprensa isto se deveu em parte à desconexa percepção de ver um grupo de jovens de classe baixa fazendo hardcore-punkrock (Teles 2000:251).
Com o tempo a relação da banda com a comunidade melhorou, já que demonstrou seu compromisso com a mesma atraindo abundante atenção da imprensa para muitas outras bandas de ali e ao impulsionar a fundação de uma Organização Não Governamental (ONG) chamada Alto Falante (um jogo de palavras, sendo "Alto" seu bairro no Recife), a que realiza projetos culturais e sociais.
A banda tem realizado três CD´s: "Agora tá Valendo" (BMG 1998), "Devotos" (Rockit!, 2000), "Hora da Batalha" (Independente, 2003) e "Flores Com Espinhos Para o Rei" (Independente, 2006).
Para voltar ao tema da identidade nacional brasileira que se encontra em canções como "Aquarela do Brasil" de Ari Barroso, há que escutar "Meu País" de Devotos como um exemplo do seu trabalho como banda.
É muito menos intensa que muitas outras canções da banda nas quais usam um estilo de alta intensidade hardcore ainda que continuem sendo muito melódicas, "Alien" de Devotos é um bom exemplo disso.
Listening activity
As you listen to CD track 19, "O Meu País" from Devotos, note the
contrast between the medium tempo rock ballad style and the content of
the lyrics, and the growing intensity of the performance.
Meu País
Vivo tão feliz
Esse é meu país
E todos que o amam
Sabem a sua fama
De país do carnaval
Da selva mundial
Do rei do futebol
Do "extermínio de menor"
Sabemos do presente
Qual será nosso futuro
Os menores estão morrendo
Que país inseguro
Eu já disse isso a você
Não adianta esquecer
Eu vou sempre te lembrar
Só me deixe expressar
Não canto só pra mim
Canto pra você
Igualdade e consciência
É o que nós devemos ter
O futuro é inseguro
O caminho obscuro
Mas tem solução
Vamos todos dar as mãos
O estilo de balada doce de rock poderia parecer em princípio que contrasta com a letra que trata o grave tema do assassinato de crianças que moram na rua nas grandes cidades do Brasil, um problema que tem atraído a atenção internacional, mas de todos modos a mensagem da canção é esperançosa.
Obra Citada - Teles, José. 2000. Do Frevo ao Manguebeat. São Paulo: Editora 34.
Biografia escrita por John Murphy extraido do livro "Music in Brazil"- editora Oxford - USA
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